Volodar Murzin sobre sobreviver ao abuso de seu pai: 'Ele batia minha cabeça contra a parede'

O GM Volodar Murzin, recém-coroado Campeão Mundial de Xadrez Rápido, compartilhou a comovente história de como ele e sua família escaparam do controle violento de seu pai abusivo.

Um feito incrível, o grande mestre de 18 anos se tornou o segundo campeão mundial de xadrez rápido mais jovem da história ao vencer o Campeonato Mundial de Xadrez Rápido de 2024 em Nova York, de forma invicta, à frente dos compatriotas GM Alexander Grischuk e GM Ian Nepomniachtchi. Ele faturou $90.000 pelo título no rápido e $20.000 por chegar às quartas de final no blitz.

Por trás da incrível conquista, há uma história chocante. O jovem de 18 anos revelou pela primeira vez o trauma de sua infância em uma entrevista emocionante ao site esportivo russo Championat.

'A agressão era a norma'

Murzin contou como sua mãe, Ekaterina, levou ele e suas quatro irmãs a 1.770 quilômetros de distância de sua cidade natal, Nizhny Tagil, para escapar do abuso de seu pai.

"Ele começou a me bater constantemente quando eu tinha sete anos. Ele bateu na minha irmã mais velha com uma pá quando ela e minha irmã do meio foram visitá-lo," disse Murzin. Ele não se lembra de o relacionamento com ele ter sido alguma vez normal. "O abuso com todos na casa era a norma."

Ele começou a me bater constantemente quando eu tinha sete anos. Ele bateu na minha irmã mais velha com uma pá quando ela e minha irmã do meio foram visitá-lo.

—Volodar Murzin

Volodar tinha 11 anos quando a família fugiu para a capital. Nessa época, ele havia acabado de ganhar o Campeonato Europeu Juvenil Sub-12, e sua mãe aproveitou a oportunidade para fugir quando ele recebeu uma oferta de um clube de xadrez para jovens jogadores promissores.

O grande mestre fala sobre como se mudaram para um apartamento vazio, sem camas, e compraram colchões para não precisarem dormir no chão. "Era muito difícil; às vezes não tínhamos nem o que comer."

Controlado com proibição de viagem

As dificuldades não terminaram aí, ele diz. Seu pai continuou a controlar sua vida ao impor uma proibição de viagem quando ele estava tentando alcançar sua última norma de grande mestre. No final, eles tiveram que ir ao tribunal para que a proibição fosse retirada. Murzin conquistou seu título de GM em 2022.

O pai abusivo também tinha uma postura complicada em relação ao xadrez, segundo Murzin. "Ele costumava dizer que o xadrez era o 'jogo do diabo'. Mas ele me fazia jogar até eu ficar exausto. Tipo, até às quatro da manhã. Meus olhos estavam se fechando, eu não conseguia pensar direito, tinha que me preparar para a escola em três horas, mas ele não me deixava," ele disse, antes de compartilhar mais detalhes horríveis:

"Ele insistia que a gente só deveria lavar o cabelo com ovos crus. Ele pegava um ovo e batia na minha cabeça e na cabeça das minhas irmãs. Se eu reclamasse, ele batia minha cabeça contra a parede."

Ele insistia que a gente só deveria lavar o cabelo com ovos crus. Ele pegava um ovo e batia na minha cabeça e na cabeça das minhas irmãs. Se eu reclamasse, ele batia minha cabeça contra a parede.

—Volodar Murzin

Planos futuros e disputa

A família de seis agora vive em um apartamento de dois quartos e 50 metros quadrados em Khimki, nos arredores de Moscou. Volodar cortou todos os laços com seu pai. "Ele definitivamente é coisa do passado. Tenho certeza de que para todos nós também. É difícil perdoar e esquecer tudo o que aconteceu."

Juntamente com o GM Andrey Esipenko, o 31º melhor do mundo, Murzin está entre as poucas esperanças da Rússia, uma nação outrora grandiosa no xadrez, mas que tem enfrentado dificuldades para produzir novas estrelas na última década. A invasão em larga escala na Ucrânia pela Rússia em 2022 também levou vários dos melhores jogadores do país a deixar a Rússia, mudar de federação e protestar abertamente contra a guerra.

Nepomniachtchi, o desafiante ao campeonato mundial por duas vezes, é atualmente o único jogador classificado entre os 25 melhores do mundo.

Murzin tem estado em uma longa disputa com a Federação Russa de Xadrez e, ao contrário de Esipenko, recusou assinar um contrato longo com eles. Atualmente, ele é patrocinado por um banco e joga sob a bandeira neutra da FIDE.

[Nota editorial: O Chess.com esteve em contato com a mãe de Volodar, que confirmou a história e aprovou o uso das fotos.]